Londres queimou. E não só a capital inglesa: Manchester, Birmingham, Bristol, Nottingham Forest, West Bromwich... O que começou no bairro de Tottenham em protesto contra a morte do taxista Mark Duggan deixou os limites da contestação e ingressou no mundo da violência. Cinco pessoas morreram. E o globo se perguntou por que isso estava acontecendo. A pedido do Jornal do Commercio, a pernambucana Monica Judice Lewis conta, de Haddenham, a 60 km de Londres, um pouco da percepção de quem está pertinho dos acontecimentos:
“Meu nome é Monica Judice Lewis. Tenho 35 anos, sou pernambucana casada com o inglês Russell Lewis e tenho dois filhos: Hannah, 9 anos, e Matthew, 7. Moro na Inglaterra há 12 anos, dos quais cinco morei no Centro de Londres. Hoje, apesar de morar fora de Londres, vou muito lá, pois trabalho na área de direito internacional e a maioria das empresas as quais presto serviços ficam na capital.
A semana foi tensa, por causa dos motins que começaram na área de Tottenham. Desde que vim morar aqui, em 1999, nunca tinha visto algo assim. Um choque para a população britânica, que é muito pacífica e não é acostumada a este nível de anarquia. Aliás, nem acostumada e nem preparada. Muitos com medo até de sair de casa.
Os policiais britânicos são ótimos profissionais, respeitadores dos direitos humanos da população. Sao pacíficos, generosos e úteis. Eu, assim como todas as pessoas que conheço, apoiamos totalmente esses profissionais. Por serem pacíficos demais, nos motins – apesar de não se poder considerar o que aconteceu motim, mas sim crime organizado –, falharam até certo ponto pois levaram muito mais tempo do que deveriam para controlar a situação.
Em Peckham, no sul de Londres, os ataques começaram ao anoitecer, e em geral foram contra estabelecimentos que vendiam roupas de marca, eletrodomésticos e telefones celulares. O que estava acontecendo era roubo e bagunça. Nas lojas simples, de mercadoria barata divertiam-se em destruir o local. Já em lojas de objetos caros, como eletrodomésticos, eles saiam carregando na cabeça TVs de 50 polegadas.
Amigos que moram lá contaram-me em detalhes do barulho, falta de respeito e destruição. Ninguém saiu de casa com medo do que estava acontecendo e, da janela, assistiam a devastação do lugar onde moravam. No entanto, no dia seguinte, juntaram-se todos armados de suas vassouras, para limpar e dar início a reconstrução do que foi destruído. Já na noite seguinte, o silêncio reinava na área, já que, com o aumento do número de policiais tudo estava calmo. Todos sentimos primeiramente medo, depois raiva e revolta contra aqueles que ocasionaram tudo isso e, enfim, pena, e muita, daqueles que tiveram seus negócios destruídos.
Eu acredito que a situação já esteja sob controle. No entanto, pode acontecer novamente, pois assim como desta vez, eles podem comecar a “propaganda” na internet, nas redes sociais. Ou talvez não, pois afinal mais de mil pessoas foram presas em conexão com os atentados e talvez a punição destes cause medo a outros que acreditavam que a impunidade mais uma vez reinaria.
Fico muito triste em ver algo assim acontecer num país tão generoso e respeitável. Há 12 anos que sou muito feliz aqui, sinto-me segura, nunca presenciei um crime sequer, nem sei de nenhum conhecido ter sido vítima de nada. Não me permito acreditar que essa paz em que vivo vai ser abalada, pois tudo que eu quero é um mundo melhor para os meus filhos."
Fonte: JC Online.
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