sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Após ser barrado, gari pode ter chance no futebol

Todas as barreiras que o esporte geralmente ajuda a derrubar vieram à tona com o caso do gari que foi barrado depois de ter passado numa peneira no time do Santa Cruz. Mas a história de Sandro Siqueira pode ter um final diferente. Assim que a reportagem foi exibida no NETV 1ª Edição desta sexta-feira (04), apareceram três convites para Sandro finalmente realizar o sonho: ser jogador profissional.

Os convites partiram do Central, Centro Limoeirense e do Carpinense, todos do interior de Pernambuco. E vieram num momento importante, pois Sandroi foi demitido do emprego de Gari. Com o salário de R$ 610 ele sustentava as duas filhas e a mulher.

“Sem trabalho e sem futebol. Vou fazer o que? Mas agora é a vez da chuteira. Agora vai”, vibrou o jogador.

DEMISSÃO
O supervisor de futebol do Santa Cruz, Flávio Lira, foi demitido após se envolver no episódio em que o gari Sandro Siqueira foi barrado durante testes de jogadores. Em entrevista ao repórter André Gallindo, por telefone, Flávio disse que foi comunicado da demissão no início da noite desta sexta-feira após cinco anos de trabalho no Arruda.

Ele lamentou a decisão da diretoria do Santa Cruz porque apenas repassou a opinião do diretor de futebol do clube, Nevton Borba, que estava presente no estádio durante os testes.

ENTENDA O CASO
A história de preconceito no futebol gerou polêmica no Santa Cruz. O clube está testando jogadores profissionais e amadores. Entre esses amadores, estava Sandro, que foi convidado pelo clube para um desses testes, mas que foi barrado logo em seguida por causa da profissão. Sem saber que estava sendo gravado, o supervisor de futebol Flávio Lira, afirmou que “isso é munição para as pessoas dizerem que todo mundo entra no Santa agora”.

Nas divisões de base do próprio Santa Cruz, Sandro teve a primeira chance como jogador. Depois foi para o 7 de Setembro, time de Garanhuns, Agreste de Pernambuco, mas não deu certo.

Como vários meninos que sonham em ser jogador de futebol, Sandro conseguiu arrumar um emprego digno para sustentar a família fora do esporte. Ele é casado, tem duas filhas e quase aos 30 anos. Mesmo desistindo da carreira, Sandro continuou em campo – mas como gari de um estádio de futebol em Paulista, Região Metropolitana do Recife.

A chuteira não faz parte do uniforme - vassoura e a pá são as companheiras de trabalho. Com o salário de R$ 610, ele sustenta a família. O trabalho é pesado, não tanto quanto o preconceito. “É muita discriminação porque você é gari, mas é daqui que levo meu pão de cada dia para minha família”, afirma Sandro.

E a chance surgiu ali mesmo e de surpresa. “Quando eu cheguei para trabalhar, os caras falaram que tinha uma peneira do Santa Cruz”, conta. “Peguei a chuteira do roupeiro emprestada, porque eu não tinha uma”.

Sandro agradou. “Treinei e fui selecionado para vir jogar na quinta-feira”, diz. No dia marcado, ele foi para o vestiário e voltou pronto para enfrentar o time principal do Santa Cruz. No teste, havia mais de 20 concorrentes.

Elvis estava entre eles. O universitário prefere o gramado ao diploma. “Eu estava no terceiro ano de fisioterapia. Deixei o curso para seguir na carreira de futebol, conta. Sandro tinha até torcida - jogadores e o técnico da seleção de Paulista estavam lá por causa dele. “Ele foi um dos melhores do peneirão, pensei que ele ia no primeiro time”, avaliou o técnico Paulo Júnior.

“O fato de ele ser um jovem humilde, que trabalha como gari, não significa que ele não possa se projetar no futebol”, afirmou o funcionário da Secretaria de Esportes de Paulista, Everaldo José.

Elvis e os jogadores que aguardavam foram chamados e Sandro foi o último. Ele ouviu o que o técnico de juniores Wilton Bezerra disse e saiu sem treinar. “Ele falou que não tinha para denegrir a imagem do Santa Cruz, que tem um patrimônio muito forte, que era o diretor. Infelizmente não deu oportunidade”, lamentou. “Não tinha chance de eu treinar no Santa Cruz porque eu sou gari, atrapalharia a imagem do clube”.

Wilton Bezerra, técnico do juniores , que comandou o treino não quis entrar em detalhes sobre a dispensa de Sandro. “Do que ele disse, não posso falar nada. É com ele, não comigo”, afirmou o treinador.

Mas o supervisor de futebol, Flávio Lira, sem saber que a conversa era gravada confirmou que o clube temia que a contratação de um gari pudesse ter uma repercussão negativa para o clube. “Tudo isso é munição para a negada ficar zoando ainda mais com o pessoal. Pode ter certeza que o que vai rolar na cidade é isso. Todo mundo vai ficar dizendo que no Santa Cruz, está todo mundo entrando no Santa Cruz. Infelizmente é”, disse.

Infelizmente é pouco diante do que Sandro sentiu. “Me sinto humilhado”, confessou. E frustrado também, já que aos 29 anos , é cada vez mais difícil ter outra oportunidade. A chuteira vai continuar representando um sonho não realizado. “Vou guardar a chuteirinha que estava aqui, há um século que parada, e calçar minha botinha de novo”. Mas nem isso vai ser possível -agora, Sandro Siqueira está desempregado.

O diretor de futebol do Santa Cruz, Nevton Borba, comentou o caso. “Existe um grande mal entendido, o Sandro não foi barrado. O Dado Cavalcanti estava selecionando atletas se clubes para fazer um coletivo, descobrimos que ele não era de nenhum clube, só de outra atividade. Ele não sabia que o Sandro não era de nenhum clube”, disse.

De acordo com ele, poderia haver uma reversão disso. “Mas no caso não houve seleção de atletas, só um coletivo. Sobre o que Flávio Lira afirmou é preconceito, isso não poderia ser dito de jeito nenhum. Se o clube fizer seleção com atletas, podem vir de qualquer profissão”, concluiu Nevton Borba.

Fonte:pe360graus

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