Em 1981, L.C.G. era um menino de 3 anos. Reinaldo estudava jornalismo no Recife. O adolescente Fábio ainda não tinha iniciado o ensino médio e já sonhava em viver na Suíça. O tempo passou para os três e para a doença que mudou a trajetória deles. Trinta anos depois da descoberta da aids, eles são a prova de como lidar com o HIV transformou-se ao longo de 30 anos do ponto de vista terapêutico, mas permanece difícil. Embora tenha se tornado controlável, a síndrome mata por ano 500 pernambucanos, mortalidade alta, apoiada no preconceito e na vulnerabilidade dos que são vítimas da pobreza e escravizados por drogas como o crack, que leva ao sexo sem proteção e à prostituição. O rótulo de câncer gay, derrubado dois anos depois da descoberta da doença, ainda reforça a discriminação.
“Fiquei sem saída, sem saber o que fazer na vida”, diz L.C.G., da nova geração de doentes. Aos 33 anos, ele descobriu a infecção quando tinha 29, ao fazer exames para cirurgia. Para ele, “aids é a pior coisa do mundo”. Além de dificuldade de adaptação ao tratamento, foi vítima de preconceito. Chegou a mudar de bairro para fugir do constrangimento. “Fui humilhado no local de trabalho e até na Previdência Social”, conta.
Quando descobriu-se portador do vírus, resolveu expor a questão ao chefe, pois precisaria, num primeiro momento, ausentar-se seguidamente para exames médicos e laboratoriais. Mas surpreendeu-se , semanas depois, quando a informação vazou para os demais colegas e, posteriormente, com a demissão. O choque foi maior porque ele trabalhava numa instituição religiosa.
Sentir-se sem saída também aconteceu com o jornalista Reinaldo, na época vivendo no Rio de Janeiro. Mas isso foi bem antes, em 1985, quando nem o AZT era usado no combate ao vírus. “O impacto foi grande. Não sabia o que fazer. Via-me como um personagem de desenho animado jogado contra a parede”, descreve. A vontade de viver, no entanto, foi mais forte. Aprendeu a segurar as náuseas para tomar até 35 comprimidos, mudou a alimentação, foi um dos primeiros a experimentar o coquetel dos anos 90 e se entregou à luta por direitos.
Vivendo há 26 anos com a doença, Reinaldo, 51 anos, acredita que a não adesão ao tratamento, responsável pela morte de muitos, tem relação direta com o estigma. “Há pessoas que escondem de si e dos outros que têm aids, é como se fosse um suicídio”. O preconceito com a aids é ligado à sexualidade, a associação com a homossexualidade, a vida promíscua e ao uso de droga.
Vencer limitações tem sido constante na vida de Fábio Correia, 44 anos, que atuava no setor hoteleiro. Embora com menor tempo de doença (adoeceu na década passada), sofre sequelas neurológicas. “No início, temia que minha mãe sofresse rejeição”. Ele ensina que diante da doença o melhor é aceitar e saber viver com ela. Sem condições de voltar ao trabalho, Fábio encontrou no trabalho voluntário uma nova missão para a sua rotina.
Fonte: JC Online.
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