Em depoimento à Justiça Federal, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) negou nesta terça-feira que tivesse conhecimento do mensalão --esquema de integrantes de partidos da base aliada do governo para corromper congressistas.
Dilma afirmou ainda que não encontrou nenhum documento que pudesse indicar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi avisado pelo então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que existia um esquema de compra de votos no Congresso e que o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) --que acabou com o mandato de deputado federal cassado por causa do escândalo --foi injustiçado.
A ministra, que foi indicada como testemunha de defesa dos réus José Janene e Roberto Jefferson no processo, prestou depoimento por mais de uma hora e meia e disse que ficou sabendo do esquema pela imprensa.
Dilma afirmou ainda que não conhecia o publicitário Marcos Valério, apontado como o operador do esquema. "Não tenho conhecimento do mensalão. Só soube pelo que foi noticiado pela imprensa", disse.
A ministra disse ainda que não sabia de nenhuma movimentação de Dirceu para favorecer nenhum setor. "Não tenho conhecimento de que Dirceu tenha beneficiado instituição financeira. Acho que o ministro foi injustiçado. Tenho por ele grande respeito", disse.
Para a ministra, o esquema de compra de votos ou vantagem financeira para partidos políticos seria impossível. "Isso não aconteceu, até porque era impossível. Não havia a menor possibilidade de isso ser aceito por nós [governo]. Não houve isso de parte alguma, nem [vantagem] de qualquer outro tipo", disse.
Dilma afirmou que não houve pedido de vantagem financeira por parte de Janene, que era presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara em 2003 e comandava a tramitação da reforma no setor elétrico. A ministra também fez referência a outros dois petistas: o deputado Paulo Rocha (PA) e o ex-deputado Professor Luizinho (SP) e disse não acreditar que ambos tenham se beneficiado financeiramente durante as negociações das reformas no Congresso.
"Ele [Paulo Rocha] era um parlamentar muito participante, muito preocupado com o desenvolvimento de seu Estado", afirmou ao dizer que conhece Rocha e Luizinho desde que se filiou ao PT há pouco menos de dez anos.
Questionada pelo advogado de Luizinho, João dos Santos Gomes Filho, se pelo que conhece do ex-deputado ele faria alguma negociação espúria a ministra foi categórica: "Não acredito", afirmou.
A ministra, no entanto, reconheceu que a agilidade com que as matérias na Câmara foram aprovadas chama atenção. Segundo a ministra, a rapidez foi provocada porque o país enfrentava o problema com o apagão."Olho para ele hoje e me surpreendo da rapidez. Tinha mais de mil emendas. É estarrecedora a rapidez com que foi aprovado".
Dilma, que na época era ministra de Minas e Energia, afirmou que não foi informada de qualquer pedido em troca da votação ou aprovação da reforma do sistema elétrico. A ministra disse ainda que não houve nenhum pedido de Jefferson para indicar pessoas para cargos nas comissões no setor elétrico.
Testemunhas
Além da ministra, outros integrantes do primeiro-escalão do governo Lula terão que dar esclarecimentos à Justiça por causa do mensalão. O presidente Lula também foi indicado como testemunha de Janene e Roberto Jefferson. Também serão ouvidos o vice-presidente José Alencar e os ministros Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) e José Pimentel (Previdência).
Acusação
O ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza ofereceu denúncia ao STF (Supremo Tribunal Federal) em abril de 2006 contra 40 suspeitos de participarem de um suposto esquema de compra de votos de parlamentares da base aliada --o mensalão.
Em agosto de 2007, os ministros do STF acataram a denúncia e transformaram os suspeitos em réus.
Entre os denunciados estão os ex-ministros Luiz Gushiken (Comunicação do Governo), Anderson Adauto (Transportes) e José Dirceu (Casa Civil), além do empresário Marcos Valério, os deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e José Genoino (PT-SP) e o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Dos 40 denunciados, 39 continuam respondendo como réus. O ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira fez um acordo e foi excluído da ação em troca do cumprimento de pena alternativa.
Fonte: Folha Online.
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