Motivo de vergonha alheia para muitos, saudosismo para outros, o fato é que quase ninguém na casa dos vinte e poucos anos passou incólume pela febre dos Cavaleiros do Zodíaco quando criança. Exibido originalmente pela TV Manchete em 1994, foi uma dos desenhos de maior sucesso na TV brasileira, rendendo diversos outros produtos, como filmes, bonecos, sem falar da pirataria. Neste ano, a série japonesa completa 25 anos de sua primeira exibição no Japão.
No Brasil, ela chegou a ser reprisada no Cartoon Network e teve alguns episódios exibidos semanalmente na Band, mas não teve muito sucesso, para tristeza dos saudosos. A história falava de guerreiros que protegiam a deusa grega Atena e usavam armaduras baseadas nas constelações. O principal deles, Seya, da armadura de pégaso dava nome ao desenho no original japonês, Saint Seya.
Criado por Massami Kurumada em 1986, foi publicada na famosa revista Shonem Jump que trazia centenas de mangás toda semana. Como já era tradição, a série foi adaptada para a TV pelos estúdios Toei, responsável por sucessos antigos como Changeman e Jaspion. O sucesso alcançou todo o mundo e tornou-se parâmetro para medir febres infantis nos anos 1990. Na sua esteira, diversos outros desenhos parecidos foram produzidos tentando aproveitar a fórmula de lutadores com armadura, a exemplo de Shurato.
No Brasil, o desenho possibilitou o crescimento de um mercado editorial voltado para o público nerd. A revista Herói foi ícone desse período e durou 12 anos, com diversas reformulações. A grande maioria de seu público a comprava por conta dos Cavaleiros do Zodíaco, mas seu sucesso acabou revelando outras produções. "Eu tenho até hoje a Herói número 1. Comprava por causa dos CDZ, mas conheci muita coisa legal nela, como X-Men e Patrulha Estelar", diz Fernando de Albuquerque, editor, hoje com 26 anos. "Quando você era criança, tudo era mediado pelos cavaleiros, na hora do recreio, de largar, etc", lembra.
Raphael Araújo, 27, funcionário público, lembra que muitos piratas também se beneficiavam com a febre. "Foi a primeira explosão nerd no Brasil, eu acho. Até pessoas que tiravam xerox guardavam pastas enormes com desenhos dos personagens. Eles também xerocavam a revista Herói e vendiam as matérias", diz. Numa era pré-internet, desenhistas amadores faziam versões das armaduras e "plantavam" em uma quiosque, as crianças compravam a xerox e passavam a acreditar que aquilo um dia aconteceria na série. "Era nosso viral daqueles tempos".
A produtora Tathiana Nunes, 29, diz que assistia sempre e confirma que o desenho ainda está presente na memória afetiva. "Era logo na hora que voltava do curso. Até hoje sei cantar a música de abertura: "tem sempre alguém no cosmos ajudandando o cavaleiro a vencer". Os Cavaleiros do Zodíaco ganharam trilha sonora nacional, filmes para cinema e num caso raro para a época, horário nobre na TV, com comerciais. Algumas escolas chegaram a fazer campanha contra o desenho por seu alto nível de violência, com muito sangue, cenas de tortura e morte. No que a cultura pop iria se desenvolver mais para frente, esse tipo de narrativa não seria mais permitida para audiências infanto-juvenis.
Ainda que a história pecasse pelo roteiro repetitivo, os Cavaleiros do Zodíaco se tornaram um marco na animação mundial por sua narrativa ágil que não só prendia a atenção do espectador como o viciava naquele universo. A série ganhou novos episódios em 2003, conhecida como Saga de Hades. Os fãs assistiram pela internet antes da chegada em DVD. Nela, os personagens vivem uma última batalha contra o maior de seus inimigos. Essa fase ainda segue inédita na TV aberta no Brasil.
O mercado editorial também se prepara para um retorno dos cavaleiros. A editora Conrad anunciou que irá retomar o mangá, interrompido em 2008. A previsão é que chegue às bancas ainda no primeiro semestre. Com a facilidade de encontrar os episódios originais na rede e essa comemoração pelos 25 anos, não resta dúvida que Seya e seus amigos ainda permanecerão como a maior referência nerd que o Brasil já teve.
Fonte: JC Online.
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