quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Mais do mesmo, também no debate da TV Globo.

Apesar da tentativa da TV Globo local buscar imprimir dinâmica ao debate com os pretendentes estaduais ao governo do Estado, a iniciativa resultou infrutífera. O que se viu foi mais do mesmo. Poucas propostas, muito blá-blá-blá político e a repetição, em menor escala, dos cansativos guias eleitorais. Se depender da TV, os eleitores vão às urnas às cegas. A crítica pode ser estendida aos jornais, que passam pouco mais de um mês apenas subindo e descendo ladeira atrás de discursos amarrados por marqueteiros e pelas conveniências políticas ditadas pelos palanques nacionais.
Acredito que a Globo perdeu muita audiência nesta noite. Se tivesse passado o jogo do Sport teria lucrado mais comercialmente falando, mas a chamada festa da democracia impõe custos tangíveis e intangíveis.
Na tela, o que se viu esta noite foi um candidato à reeleição tendo apenas o trabalho de esquivar-se dos rivais. Não houve um mísero momento em que tenha sido colocado no corner do ringue. Sem demérito para os avanços que obteve nas área de segurança e saúde, Eduardo surfa na onda das obras federais com tranquilidade e aproveita até para pedir votos para Dilma, ao dizer que o momento bom só está começando. Seria pedir demais que fizesse alguma condenação da corrupção no governo que lhe dá apoio. Também seria pedir demais que reconhecesse a herança bendita que recebeu de Jarbas, com as contas equilibradas. Político algum faz isto. Lula vai morrer falando mal de FHC, sem o qual a ampliação do programas sociais e crescimento econômicos seriam desafios maiores.
Neste debate, Eduardo conseguiu até arrancar elogios do candidato do PSOL, Edilson Silva, depois de, suprema malvadeza, questionar qual a proposta do partido para a reforma tributária. O PSOL é o PT na adolescência, quando usava a ética como bandeira política. Aliás, Eduardo abusou do recurso, sempre cobrando sugestões dos adversários, possivelmente com o objetivo de expor para o grande público que eles estavam ali apenas para desconstruí-lo, com críticas. Fosse Silva um Plínio, diria que reforma tributária é pauta dos ricos contra os pobres e estaria tudo resolvido.
O principal contendor, Jarbas Vasconcelos, passou a impressão de estar sentindo o peso das intenções de voto para o adversário. Não se percebe nele o mesmo tom aguerrido de antes, como se cumprisse tabela apenas, repetindo vários pontos do discurso do guia da TV, caso da secretaria para o semi-árido e mais escolas integrais. Vem cá: o BNB foi criado com recursos constitucionais exatamente para isto? Porque não faz nada nem é cobrado? E o DNOCS e a Codevasf, idem?
No embate mais quente, Jarbas disse que Eduardo elegeu-se mentindo que ele tinha privatizado a Celpe, quando na verdade fez o leilão, pois a autorização para a venda já tinha sido obtida pelo governo anterior, de Arraes, quando Eduardo era secretário de Fazenda.
No final, Jarbas chegou a apelar para um tom mais sentimental, ao declarar-se lutando contra opositores que não contam com largueza e querem o esmagamento dos adversários. Não se sabe se com receio de ampliar a já elevada rejeição nas pesquisas, Jarbas preferiu bater de leve em Eduardo Campos, com farpas que só os bons entendedores acompanham. “Na área de turismo, os shows que fiz foram de verdade”, pontuou. Neste debate, diferente do da TV Jornal, Eduardo não esquivou-se do confronto direto com Jarbas, usando a prerogativa de perguntar-lhe preferencialmente quando teve oportunidade.
Já Edilson Silva, do PSOL, não repetiu a boa atuação que teve no debate da TV Jornal, quando cobrou falta de coerência de Eduardo ao ter um aliado que defende a pena de morte e as mortes no Hospital da Restauração. Até voltou ao tema do HR, mas sem a mesma veemência. Neste ponto, Eduardo foi sábio ao reconhecer que há muito por fazer na área. Edilson Silva também foi incisivo ao lembrar as mais de 4 mil mortes no governo socialista, em comparação com igual número na gestão Jarbas. O problema é que o discurso de ataque não cola porque a sensação de segurança é maior hoje. As pesquisas mostram isto. É possivelmente o mesmo que ocorre com Jarbas ao cobrar a promessa não realizada de descentralização na saúde. A criação das UPAs, um avanço inegável no atendimento, ajudou Eduardo a ter uma aceitação que nunca teve na Região Metropolitana do Recife. Ironia que tenha sido obtido com um modelo de expansão que é baseado no emprego de empresas privadas!
Edilson Silva, neste debate, possivelmente chateado com as acusações de que seria laranja de Jarbas, depois do último debate, na TV Jornal, em que se insinuou pela internet uma dobradinha entre os dois, optou por ser mais duro com o senador do PMDB, quando acusou-o de usar a polícia para ajudar a Celpe a cobrar contas atrasadas em comunidades mais carentes. Jarbas disse que foi invenção de Eduardo e ficou por isto mesmo. Nem Eduardo retrucou.
O candidato do PV, Sérgio Xavier, aproveitou boa parte do tempo para louvar Marina e fazer propaganda da onda verde. Fiel ao propósito de dar palanque à candidata verde. No seu melhor momento, cobrou de Edilson Silva uma definição do tipo de socialismo que defende, se parecido ou igual ao de Hugo Chávez ou Fidel Castro. Ficou sem resposta. Silva havia dito, anteriormente, que Marina havia feito acordo com os banqueiros internacionais, o que parece ter irritado o sempre calmo Sérgio Xavier. Aliás, os nanicos brilharam mais ao se engalfinhar do que os dois representantes dos partidos com maior representação parlamentar.
Sem ser acusado pelos adversários, até o socialista, alvo preferencial de todos, deu um cascudo no verde. “O PV também tem contradições, com gente que representa as oligarquias do Nordeste”, respondeu Eduardo, quando Xavier tentou dizer que as mesmas pessoas, aliados de Arraes a Jarbas, governam este estado.
É ou não é mais do mesmo? É. Para o bem e para o mal.


Fonte: Blog do Jamildo.

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